Deixa eu te dizer uma coisa

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Olha, presta atenção, tudo isso aconteceu no ano passado, exatamente no dia em que a nave pousou no Marco Zero. Bom, pousar não é bem o termo, já que ela não nunca aterrissou, só ficou flutuando lá, a uns 100m do chão. Você lembra, né? Ah, você não estava na cidade naquele dia? Porra, sorte a sua. Podia ter morrido.

Escute bem, esse dia foi foda. Todo mundo correndo, teve gente que se matou pensando que o mundo estava sendo invadido e tal, você sabe. Mas eu não tinha tempo para pensar nessas coisas, eu tinha que entregar a encomenda. Propina, sabe, de empreiteiros, porra, coisa grande, 15 milhões de reais.

Você está me ouvindo bem? Era uma responsabilidade do caralho. O deputado não queria nem saber de porra de disco voador, ET, telefone, minha casa, essa merdas. Ele queria o caixa 2 dele. É foda. A porra dos aliens tinham que pintar por aqui logo em ano eleitoral? Tipo, podiam ter vindo hoje, por exemplo, que eu tô aqui sem fazer porra nenhuma. Não, né? Foi melhor do jeito que foi.

Mas veja bem, se ligue na parada, o fato é que meu motorista ficou com tanto medo dos alienígenas que fugiu e me deixou na mão. Eu tinha que entregar o pacote. Era um inferno. A Polícia Militar não sabia o que fazer, os caras não controlam protesto de estudante, quem dirá a porra da Guerra dos Mundos.

Estou te dizendo cara, tive eu mesmo que pegar o carro e dirigir até o gabinete do homem lá na Assembléia, no meio do cu de boi todo. Cara, nunca via tantos helicópteros nessa cidade. No começo não estava tão engarrafado, pois o fluxo era todo voltando do centro da cidade. Na rádio, o repórter ia soltando as novidades. Os americanos já haviam chegado, pois eles estavam monitorando aquela porra desde que ela começou a se aproximar da Terra.

Tu sabe, claro, que a nave tem um campo de força. Foi uma merda, vá por mim, meteram tiro, as balas ricochetearam e deu a maior merda. Morreu gente e tudo. Tu tá ligado? Enfim, quando eu dobrei na Cruz Cabugá, tava um inferno, véi. Um monte de carro e ônibus abandonados, era impossível passar. Desci com a maleta e saí correndo. Mas sou fumante, como você pode notar. Quer cigarro? Não? Tá bom.

Então, voltando, quando eu cheguei no parque 13 de Maio, tive que parar para recuperar o fôlego. Nesse momento, ouvi uma explosão. Tinham lançado o míssel na nave, mas nem isso destruiu o campo de força. Você nunca leu sobre isso? Porra, doido, isso foi na tua cidade, tem que saber dessas coisas. Vê bem, a explosão derrubou uma porrada de prédio lá e fez um buraco do caralho no chão.

Então, depois de descansar fui andando até a Assembléia, mas o prédio havia sido evacuado, nem os policiais estavam mais lá. Tudo deserto. O celular não pegava mais. Então subi as escadas e entrei no gabinete do dr. Ferreira. E não é que ele estava lá? Sentado à mesa, fumando um charuto tranquilamente, com as pernas estiradas em outra cadeira. Sorriu quando me viu. Na verdade sorriu quando viu a mala.

Só entre a gente, eu nunca gostei daquele filho da puta. Não por ser ladrão, afinal eu também sou, mas pela soberba. O mundo se acabando e o safado lá, pensando em dinheiro, me obrigando a correr no meio daquela confusão, eu podia ter morrido. Agi mesmo foi no instinto. Rodei a mala na cara do velho, ele caiu, chutei com a bota no rosto dele, ele desmaiou. Peguei uma escultura de bronze que tinha na mesa e esmaguei a cabeça dele.

Na moral, não precisa se assustar, ele mereceu. Depois subi no telhado. De lá dava pra ver o disco voador. É bonito demais, doido. Deve ter, o quê, uns 300m de diâmetro? O foda é que não dá pra chegar perto mesmo, pra olhar embaixo dele. Americanos filhos da puta tomaram conta da parada mesmo.

Ei, boy, tu já se perguntou por que essa porra de nave chegou aqui, tá esse tempo todo planando no ar e nunca nenhum alien saiu de lá? Eu tenho uma teoria, meu pirraia. Eu tenho pra mim, que não tem ninguém lá dentro. Mandaram pra cá como um teste, sei lá, reconhecer terreno.

Escreva o que eu estou dizendo, a invasão ainda está por vir. Qualquer dia desses vai aparecer um monte de naves como essa, só que vão chegar chegando e aí vai ser um Deus nos acuda de verdade. Até lá, vou gastando meus milhões. Que mais uma cerveja? Pode pedir, meu pirraia. É tudo por minha conta.

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4 respostas para Deixa eu te dizer uma coisa

  1. Cuidado p/Neil Blonkampf não roubar tua ideia

  2. Pedro Dantas disse:

    Cara, estou passando por aqui para te dizer o quanto me diverti lendo seu conto na revista Trasgo, “Eles também nos vigiam”. Não só pela criatividade do universo, como pela fluidez da leitura e a verdade na criação dos personagens… Enfim. Não são elogios vazios não, fiquei realmente empolgado. Vou comprar seu livro, com certeza; e, por favor, escreva um romance! Abraços!

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